Apatia
- Claudia Vilas Boas
- 21 de ago.
- 3 min de leitura
Tenho me deparado com situações que me causam estranheza e verdadeiro assombro.
Para onde tem caminhado a humanidade?
Sempre falo da necessidade de olharmos para nosso interior, a fim de buscarmos nos aprimorar, limpar nossas sombras e buscar equilíbrio e paz. Contudo, isso não significa isolar-se do mundo que nos cerca.
Não estamos aqui por mero acaso, não convivemos com as pessoas que nos cercam por mera conveniência. Acredito que tudo tem um propósito, e não há coincidências.
Certos acontecimentos me fizeram refletir sobre a individualidade extrema, o hiperfoco em si mesmos.
Explico. Recentemente presenciei uma cena, em que uma atendente de um quiosque em um shopping começou a passar mal. A colega de trabalho a retirou do local e a sentou um uma cadeira do lado de fora.
Muitas pessoas assistiam, inclusive eu a princípio. Levei alguns minutos para pensar no que fazer, e me dirigi à colega que a estava auxiliando e perguntei se havia algum ambulatório próximo, e diante da afirmativa me dirigi ao local para solicitar atendimento.
Passado o susto, comecei a lembrar de tantas outras situações em que as pessoas têm observado com apatia as necessidades alheias, e agradeci por ter tido iniciativa, afinal poderia ter me mantido como observadora, e a situação seria resolvida de qualquer forma.
Então, no frigir dos ovos, a reflexão que fica é sobre como estamos olhando o mundo que nos cerca e de que forma estamos contribuindo. Como tem sido nossa atuação diante dos cenários que se apresentam a nós?
Há alguns dias, assisti também a um experimento social que alertava para esse tipo de apatia diante de circunstâncias que exigem uma tomada de atitude.
Fizeram a simulação de sequestro de uma criança, em uma rua movimentada, a maioria das pessoas olhava e seguia em frente, muitas sequer erguiam os olhos de seus celulares e outras apenas os desviavam do aparelho momentaneamente. Uma única moça, muito corajosa por sinal, correu atrás do homem que estava carregando a criança e a levando para um beco. Confesso, que eu não faria o que ela fez, pois acho que sozinha minhas chances de conseguir salvar a vítima seriam mínimas, e entendo o medo das pessoas, mas ao menos gritar, chamar a atenção, buscar ajuda, ligar para a polícia, qualquer atitude de auxílio e compaixão, deveria ter sido manifestada.
Isso acendeu um alerta sobre como estamos nos posicionando no mundo, o quanto se vive no automático no mundo real, enquanto virtualmente muitos se mostram revolucionários e virtuosos.
Quantos querem salvar o mundo, a floresta, os animais, a diversidade, e o fazem diante de telas, digitando ferozmente em seus teclados, indignados e cheios de discursos belos e convincentes, mas que muitas vezes não veem as mazelas de seus vizinhos, e até mesmo das pessoas com as quais convivem diariamente sob o mesmo teto, ou no ambiente de trabalho.
Enquanto se contentam em viver de narrativas e encenações, a vida real segue seu curso e nem sempre é percebida e muito menos vivida.
Há que se ter olhos de ver, ouvidos de ouvir e um coração generoso e disposto a aproveitar as oportunidades de fazer a diferença, de forma genuína, sem plateia, likes e visualizações, mas simplesmente porque é o certo a se fazer.
Certa vez, ouvi a seguinte frase: não há maior proteção do que ser uma boa pessoa.
Ser bom, cultivar o bem em nossas vidas e nas vidas que cruzam o nosso caminho, talvez seja um dos propósitos mais edificantes dessa nossa experiência humana.
Que a apatia emocional não nos contamine.
Que os nossos olhos estejam menos voltados para o virtual e mais atentos à realidade. Menos telas e mais luz e amor...reais.
#pracegover #paratodosverem ilustração de uma mulher sentada em um banco, em um jardim público, chorando. Várias pessoas transitam pelo local olhando para as telas de seus celulares ignorando a presença da mulher. Arte digital

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